A consolidação da estabilidade econômica no Brasil das últimas décadas e a recente enxurrada de dólares no mercado brasileiro trouxe à tona uma velha discussão: os reais efeitos de um dólar barato para o desenvolvimento da economia.
De acordo com uma pesquisa da FGV, de janeiro a setembro de 2010 o dólar acumula uma queda de 2,93%, vencendo para baixo a barreira do R$ 1,70. E o consumidor já pode sentir os efeitos no bolso.
No mesmo período, vários produtos tiveram reduções maiores que a desvalorização do dólar. Televisores (-8,23%), celulares (-5,19%) e os aparelhos de som (-3,97%) são alguns dos que tiveram queda nos preços, já que estão na lista dos mais importados.
Não apenas os produtos de consumo duráveis foram beneficiados. Pesquisas indicam que a desvalorização da moeda norte-americana contribui para o controle da inflação, inclusive pressionando os preços dos alimentos importados, como trigo, milho, entre outras commodities alimentícias.
Além de reduzir o preço, a queda do dólar beneficiaria a modernização do parque industrial do país, permitindo produzir mais com menor custo e maior tecnologia. Mas para isso, seria preciso fazer uma desoneração das importações de equipamentos. Hoje, os tributos incidentes sobre bens de capital no Brasil inviabiliza os investimentos.
Mas também há o outro lado da moeda. Pesquisas também indicam que a indústria brasileira está perdendo espaço para as importações, que já respondem por 20% de tudo que é consumido no Brasil.
Entre 2002 e 2008, o ritmo de crescimento das importações era de 1,1% ao ano segundo uma renomada consultoria brasileira. De 2009 pra cá, o crescimento saltou para 4,3% ao ano.
Toda a cadeia produtiva está sendo afetada pela importação. Desde insumos até produtos acabado, como carros importados. Se de um lado há o controle da inflação, do outro as empresas nacionais alegam que estão sendo prejudicadas. E o remédio que querem é a proteção ao governo, como o aumento das barreiras à importação (mais ainda).
Também se sabe que a queda da moeda norte-americana tem um efeito nefasto para os exportadores. Cada centavo perdido reduz a força financeira, dificultando a manutenção da competitividade no exterior. Porém, nem tudo pode ser creditado a desvalorização do real.
O custo da produção brasileira é muito alto, e boa parte dos problemas são conhecidos por todos há décadas: péssima infraestrutura logística e portuária, alta carga tributária, custos trabalhistas, inchaço da máquina pública , altíssimas barreiras não tarifárias, entre vários que poderíamos citar aqui.
Além disso, as exportações brasileiras representam apenas 15% do PIB. E alguns mitos precisam ser derrubados nessa discussão.
O primeiro mito é de que o governo pode controlar a taxa do dólar Criar mecanismos de administração da moeda já aconteceu no passado em uma época em que a inflação ultrapassada os três dígitos.

O segundo e importante mito a ser derrubado é que as importações só beneficiam a geração de emprego em outros países, como na China. Uma bobeira constantemente dita por pessoas que conhecem (ou deveriam conhecer) a complexidade de uma economia gigantesca como a do Brasil.
A título de informação, apenas em 2010 o Brasil acumulou um superávit comercial de US$ 4,4 bilhões com a China até agosto. E nos últimos 12 meses foram criados 2,27 milhões de empregos com carteira assinada no país, prova de que as importações não podem ser responsabilizadas pelo aumento dos empregos.
Ao invés de manter a discussão entre perdedores e ganhadores, o governo brasileiro precisaria fazer o seu dever de casa: controlar os gastos públicos e fazer as reformas estruturais, permitindo o aumento no nível de investimento e a queda nas taxas de juros.
Por Carlos Alberto
Nenhum comentário:
Postar um comentário